sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Meias Notícias

Hoje (30/09/10) foi-de dada a pior notícia que me podia ter sido dada desde o dia do acidente : “Ele nao pode mexer como fez aqui. Afinal o mal está acima da bacia”.

Que mal está acima da bacia? Nunca tive dores na coluna desde o acidente, apenas algum incómodo de estar sempre deitado de costas, então, que mal tenho na coluna? Será de ter dormido de barriga para baixo? Então e as supostas fracturas que tinha na bacia, o osso tem consolidado bem? Como está o estado da minha bacia?

Estas dúvidas não foram esclarecidas! A única resposta recebida foi “Não posso dar mais informações. Ele terá que aguardar a chapa e respectivo relatório da médica!!”

Após 5 semanas de cama, as notícias, embora não oficiais e recebidas por familiares que receberam por fonte interna do centro de exames, parece que não estou a ir tão bem ao sítio como se previa.

As palavras de ordem recebidas durante a minha hospitalização em França eram: 45 dias de cama, em decúbito simples (posição deitada), posição sentada no máximo a 45º, ou seja, durante 45 dias, ficas deitado, mal te podes sentar, não podes pôr de pé, não podes andar.

Durante 10 dias de hospitalização, fui seguido por uma fisioterapeuta do hospital que me indicou as posições que podia e não podia ter, os movimentos que podia e não podia fazer, explicou-me por alto a minha situação clínica e porque não fui operado. Curioso de nascença e interessado em perceber o que me estava a acontecer, porcurei na net mais informação sobre a minha situação.

Se fiz asneiras durante estas 5 semanas, fiz, rebolei na cama para chegar aos meus fins da mesma forma que rebolava no hospital para fazer os exames ou passar para a maca para os banhos; ia buscar coisas distantes mas sem nunca me pôr em pé e/ou prejudicar a minha bacia. As posições que realizei, fi-las com conhecimento de risco e “gerindo o meu corpo”, tal como no hospital me diziam que o geria bem.

Afinal, passados cerca de 38dias, Michel não está bem. Se Michel tinha que estar em decúbito simples, passou a ter que passar a permanecer decúbito dorsal! Posição aconselhada neste tipo de patologia. Mas já imaginaram o que é estar CONSTANTEMENTE sobre as costas?! Então, médicos especializados e competentes, num dos melhores hospitais franceses, diziam-me que podia fazer isto e aquilo, agora outros dizem “Pará com isto, não se pode fazer isto!”, mas não informam sobre o estado das fracturas!

Não quero descredibilizar este ou aquele, seja médico, enfermeiro, seja português ou francês, apenas gostaria de saber como está o meu estado, que façam como me fizeram há 5 semanas atrás, em que me disseram “Michel tens uma fractura estável da bacia, quebraste estas duas partes, uma intervenção cirúrgica não é necessária, mas terás que permanecer em posição deitada durante 45 dias. Se ao fim desses dias os teus ossos o permitirem, após verificação por raio X, então poderás começar a tua reabilitação, com fisioterapia progressiva!” Sempre que tive dúvidas, foram-me esclarecidas pelas pessoas qualificadas para isso. Se perguntasse a uma enfermeira, respondia-me que tinha que falar com a fisioterapeuta ou o médico, aproveitando assim a visita diária de manhã.

Tenho passado grande parte do meu tempo sozinho, fechado aqui neste quarto, tendo que lutar para não ir abaixo com a solidão e com o meu estado clínico, lutar para não fumar, lutar porque o destino foi severo comigo para me mostrar que o meu lugar era cá, perto dos amigos e da família. Não tem sido fácil, e menos é a partir de hoje.

O que tenho mais ouvido até hoje é “Não faças isso, não faças aquilo. O problema é teu, não meu.” Ontem e há dias, ouvi, respectivamente, “Vais fazer o raio X? Não tenho muita fé, pois mexes-te muito” e “Só pode estar bem com estas férias, não faz nada de nada, os outros é que fazem tudo!”. Ao chegar a Portugal também ouvi “(...) eles eram incompetentes! Monitores que sabem que só se podia fazer um de cada vez e eles fizeram os 8 juntos!...”

Mas será que estas pessoas têm as qualificações e informações suficientes para perceberem o que tenho, o que sei (modéstia à parte), e o que estou a sentir?! Dão-se ao trabalho de se lembrar, que apesar dos seus actos, as pessoas têm sentimentos?! E depois voltam passado umas horas ou dias passando com o pano por cima!! De referir que aquelas palavras vieram de familiares próximos...

Aquele Michel que todos vocês conhecem como irrequieto, que não consegue estar 5min na mesma posição na cadeira, aquele que até o dedo mindinho do pé tem que mexer, aquele que precisava de se mexer para estar bem, aquele que pratica desporto desde o 6 anos, aquele que decidiu dedicar a sua vida ao desporto e partilhar com os outros os benefícios da prática desportiva, ..., é este Michel que está deitado. É a este Michel que pedem para não mexer, é este que todos dias olha para as pernas e sabe que não as pode usar, é este que olha o bom tempo pela janela e não pode passear ou aproveitar dele, é este Michel que tem de esperar que lhe tragam a comida para comer, entre outras coisas.

As minhas fracturas têm recuperação total possível, na maioria dos casos, geralmente não há mazelas, em poucos meses estarei de novo como era antes, com os ossos recuperados a 100%. Pode demorar mais que o normal, cada um é como é, cada corpo reage de maneira diferente, depende das asneiras, mas enquanto não passa, enquanto não há dados oficiais e certos sobre o que se passa...la se vai sofrendo nalgumas alturas.

Longe de mim estar a vitimizar-me, tenho momentos de “blues” mas tento manter o que me característico: ALEGRIA, aquela força de luta!!!